Memórias de uma Mulher de Prazer, de John Cleland.
É bem provável que você não conheça este livro, afinal, o autor só teve repercussão com ele. John Cleland é um escritor do século XVIII que, segundo a sua biografia, foi preso por causa de dívidas e, enquanto estava na prisão, revisou e o enviou para publicação. Considerado o primeiro romance erótico da modernidade, Memórias de uma mulher de prazer (popularmente conhecido, na época, como Fanny Hill) foi um marco na luta contra a censura erótica porque os editores e os impressores foram presos e acusados de obscenidade. Infelizmente, o escritor teve que abdicar do livro e, a partir de então, surgiram edições piratas que passaram a divulgar os escritos.
Cleland foi compreendido como pornográfico na época ao narrar as aventuras de uma jovem, em sua iniciação sexual e no decorrer de sua vida. Além da escrita detalhada e marcada por retrato de cenas consideradas “imorais”, na década de 1760 começaram a surgir versões ilustradas e foi isso, principalmente, que lhe atribuiu o cunho pornográfico. Este material iconográfico, inclusive, inviabilizou discussões objetivas acerca do romance no século XIX e este apenas foi reconhecido pela crítica há pouco tempo.
Fanny Hill ou Memórias de uma Mulher de Prazer conta a história de uma jovem de quinze anos, cujos pais falecem e, por isso, vai para Londres em busca de uma vida melhor. Lá, ela acaba indo parar em um bordel e apaixona-se por Charles, fugindo com ele. No entanto, ele precisa deixar a cidade e ela fica sozinha – deixando a insegurança de lado e tornando-se uma cortesã bem requisitada pelos homens… até que casa-se novamente com um homem rico e descobre que está sendo traída. Como troco, entrega-se aos prazeres com um criado e é pega em fragrante. Financeiramente melhor, volta para uma casa de satisfações sexuais e finge perder a virgindade novamente… até casar-se novamente, seu marido falecer e ela enriquecer a base da sua herança. Após alcançar a independência financeira, Fanny lembra-se de Charles – o rapaz com quem perdeu a virgindade e apaixonou-se pela primeira vez ou, pode-se dizer, seu primeiro e único amor.
Mais do que um enredo belíssimo, Cleland traz em minúcias os enlaces sexuais – não apenas de Fanny Hill, mas também daquelas que habitavam a casa em que ela conviveu por um tempo. Tais enlaces também referem-se à orgias e momentos entre homossexuais. Tudo isso serviu como um tapa na cara da igreja (e, ai, esse tapa foi uma delícia!). Escrito em dois volumes, apresenta-se em forma epistolar (ou seja, você lerá duas longas cartas). Desse modo, lemos confissões e adentramos ainda mais nesse mundo de prazeres sexuais. Quer saber? Vale super a pena lê-lo.
Quem me apresentou a Cleland foi um amigo lindo. Com uma dedicatória mais linda ainda, apaixonei-me logo nas primeiras páginas deste livro. E outra: não é coisa de outro mundo achá-lo para comprar e também não é caro, dei uma pesquisada por aí justamente para lhe dizer isso, ok? Boa leitura e próximo mês tem outra indicação deliciosa por aqui!
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.
Um comentário
Pudor Nenhum
Rodrigo, este meu livro é a edição ilustrada e, inclusive, foram essas ilustrações que contribuíram para que o livro ficassem tão à margem e sofresse intensamente a censura. Você vai encontrá-lo facilmente. Leia que irá amar!