Namora, termina e volta, termina e volta.
Alguns namoros parecem ter prazo de validade; mas, como todo produto bom, a gente não se convence do seu prazo e quer manter só mais um pouquinho. Sabe aquela latinha de doce que você diz não ter problema ter vencido e, ainda assim, continua comendo? Pois é, é desse jeitinho. Alguns namoros são complicados demais, só que a gente gosta tanto da pessoa que não consegue largar o osso.
O primeiro motivo para terminar parecia bobo demais porque, com uma simples conversa, já resolveria. Então a gente conversa e depois retorna felizes. Apesar das desconfianças suscitadas, tudo passa a ficar bem e os planos entre os dois começam a se formar. Só que aí aconteceu outro episódio, a paciência se esgota, o relacionamento satura e pronto: terminaram mais uma vez. Cada um tenta levar a sua vida sozinho, surgem uns beijos cá e outro lá; mas como um feitiço, vocês começam a se encontrar, a se entender e, quando percebem, as línguas já se cruzaram e o corpo já o traiu. Assim, o namoro volta mais uma vez.
Só que tem proibição aqui e ali, tem um não ceder cá e acolá, tem um vestígio daquele problema lá do início. Em outras palavras, a ponta do iceberg continua. Mas, mesmo assim, o namoro retorna cheio de planos e mais planos. É aquela coisa de tentar mais uma vez, só que existe um problema no meio de tudo isso: quando você tenta é porque já sabe o quanto aquilo está fadado ao fracasso e, portanto, está prorrogando o que já mostrou – em momentos anteriores – não dar mais certo.
E ficamos nessa coisa de tentar, tentar, tentar. Prorrogamos o fracasso da relação. Estendemos, por anos, nossa infelicidade com pitadas de sabor em pequenos intervalos a dois. Quando nos damos conta, não era pra ser. Quando percebemos, ganhamos anos de aprendizado e perdemos alguns anos que seriam melhor aproveitados conhecendo outras pessoas.
A mulher sempre sai da relação com a autoestima abalada e se sentindo perdida. O homem sai meio bobo, sentindo-se perdido também. Os dois saem trouxas e querem redescobrir a vida. Sentem-se livres, como pássaros que acabaram de sair da gaiola. A partir do momento que o desapego acontece, a vida muda de cor e tudo volta a dar play. O nosso controle remoto perde a tecla pause e, assim, seguimos reticentes sem expectativas do que há por vir. A gente deixa de se permitir até o mundo dá voltas e um bem-te-vi lhe sorrir.
Quando tudo termina, não significa que o coração deixou de amar. Algumas vezes, o amor continua. Ele apenas resolveu dar espaço para o próprio ato de também se amar.
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.