Carnavalizou em meu corpo
Começou o carnaval e, entre todos os dilemas, existiam aquelas vontades que vêm e vão como ondas do mar. De todos os desejos, o de estar em paz com casa arrumada e trabalho entregue a tempo eram os que predominavam. A responsabilidade estava em todos os lugares, menos em se proporcionar prazer.
O corpo ainda não havia se atentado ao fato de que ele poderia se esquentar e fazer parte de uma das maiores festas do ano. Como dizia aquela voz interna, “Quando carnavaliza, veraneia dentro da gente”. Assim, a fornalha, que aquece o coração e o que carregamos entre as pernas, começam a pegar fogo. Em cada batucada, o desejo de se despir. A gente quer se sentir jovem, pular, se jogar, perder o juízo e se libertar de toda incompreensão que a maturidade nos obriga a aceitar.
Na terça-feira de carnaval, enquanto os outros corpos levantavam a bandeira da paz, havia uma que queria festejar. Entrar na folia tornou-se sua prioridade. Agora, ela podia se permitir a esse desfrute. Então, fantasiou-se de siririca e comandou a festa. Com um trio de dedos, foi cantora e discotecou até toda a leveza do corpo pedir bença e ceder.
O seu corpo, naquele instante, carnavalizou. Houve euforia por dentro e por fora. Como dizia Parangolé, ” Ela não quer guerra com ninguém. Nem namorado ela tem”.
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.