E esses compartilhamentos no WhatsApp?
Compartilhar piadas e brincadeiras pelo WhatsApp é a moda do momento. Quer dizer, o app se tornou a forma mais prática de se comunicar. Todo celular tem um sistema que o suporte e todo mundo quer ter um celular com internet para poder ter acesso a esse aplicativo que pode ser considerado mais uma forma de revolução na comunicação.
Assim como em todo espaço democrático, não faltam informações para serem veiculadas entre os indivíduos e grupos de bate papo. No entanto, algumas informações compartilhadas ultrapassam os limites e tornam o ambiente um espaço sensacionalista. Cenas de preconceito e invasão de privacidade ocorrem constantemente sem nenhuma reflexão, consternação ou algo parecido.
Lembro-me de quando participei de uma pequena discussão na qual a notícia era a seguinte: “Garota de enforca em Santana após aparecer foto sua na net no motel com três homens…”. Além da mensagem, vieram três fotos seguidas (ela enforcada, olhando-se no espelho e no motel com os rapazes) e o comentário da pessoa que compartilhou alegava que havia outras fotos mais impactantes da vítima durante o ato sexual.
Primeiramente, eu me pergunto: O quê que tem uma moça fazer sexo com três homens? A gente vê direto em filme pornô e tanta gente faz – a diferença é que fica na surdina. Sexo é intimidade e, sendo assim, não precisa ser registrada e vista por ninguém. O impacto que a foto me causaria se fosse de sexo com um homem foi o mesmo de sendo com dois, três ou quatro homens porque, em todos os casos, houve uma ruptura dos limites do que é público e privado.
A nossa sociedade é muito hipócrita para reconhecer a liberdade sexual em que já estamos, inclusive, inseridos. Julga-se muito, compartilha-se sem saber quem é e sem saber se o fato é realmente verdade, esquecem que a família pode estar chorando pela perda e, certamente, não gostaria de ver as fotos de sua filha em momentos íntimos e morta circulando por aí.
As pessoas se esquecem que estão em sociedade e que, de repente, a vítima pode ser conhecida de alguém próximo. Sem contar que se não temos nada a ver com o assunto, para quê compartilhar imagens? Seria mais adequado tocar no assunto de uma forma mais amena para propor reflexões. Após uma pequena discussão, alguém disse, no casp em questão, que “é chato compartilhar, mas é necessário pra ver se o povo toma jeito e larga de querer rotular a sexualidade dos outros. Ver as consequências disso tudo”. Ao ler este comentário, mantive minha opinião sobre o assunto.
Os programas televisivos, os blogs e sites que se dizem jornalísticos estão recheados de imagens de mortes e sofrimentos, pois as pessoas parecem seduzidas com isso e, até hoje, não vi nenhuma reflexão suscitada por mortes de desconhecidos. Só sentimos verdadeiro pesar e indignação quando o ocorrido foi sob nosso pé. Caso contrário, é um caso a mais, independente do fato envolver sexo ou não. Desse modo, não entendo como é necessário tais compartilhamentos.
Quando receber algo invasivo na telinha do seu celular, guarde pra si e discuta com seus amigos. O debate em si expõe menos a vítima e expõe mais a sua opinião, além de favorecer a conscientização acerca do ocorrido. Isso pode possibilitar que o compartilhamento comece a passar por uma triagem, feita por nós mesmos, antes de ser jogada por aí. Pense nisso!
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.