Dança do ventre: sensualidade e preconceito
Quando se pensa em uma dança que explora a sensualidade, vêm à cabeça da maioria das pessoas a dança do ventre. No entanto, ninguém busca conhecer sua origem nem a reconhece enquanto uma manifestação cultural. Neste sentido, a dança do ventre tornou-se uma expressão corpórea e provocativa para o gênero masculino, bem como um símbolo de preconceito por ter se popularizado como aquela que promove e intensifica a sexualidade.
Antes de escrever esse texto, eu comecei a pesquisar sobre a origem da dança do ventre, conversei com a dançarina Mariana Rabêllo e deparei-me com muitas versões – o que não é de estranhar, visto que a dança é uma manifestação antiga e, como tudo no tempo, passa por transformações. A linguagem oral também possibilita alterações no modo de se contar uma história. Para alguns, tal dança surgiu na Índia, outros dizem ter sido no Egito e por aí vai. Já a expressão dança do ventre, dizem ter surgido em 1893 e ser oriunda do francês danse du ventre.
Como conhecemos, a dança do ventre é – majoritariamente – dançada por mulheres com vestimentas que deixam a barriga à mostra. Os movimentos do corpo lembram um serpentear enquanto as mãos e braços acompanham-no de forma delicada e sensual. A sua história deixou de ter um cunho religioso e cultural para tornar-se, em alguns países do ocidente e também do oriente, uma dança a ser apresentada somente entre quatro paredes ou como forma de sedução. Profissionalmente, no Brasil, nem sempre tem reconhecimento, principalmente, em cidades interioranas.
Em uma sociedade patriarcal e – consequentemente – machista, as mulheres casadas ou enamoradas, ainda possuem uma relação estreita com o cônjuge na qual há submissão. Devido a isso, elas não podem dançar em outro lugar a não ser para eles. No caso de mulheres solteiras, há um olhar atravessado pelos sentidos que a constituem por causa da dança. Com todas as palavras, o preconceito rola pesado. Mariana Rabêllo, que é professora de dança do ventre, confirma que
Há ainda um preconceito na dança oriental, principalmente para as bailarinas que vivem da própria arte. Além disso, existe o preconceito gerado por parente e familiares de algumas alunas. Há situações onde o marido permite que ela faça, porém, não pode se apresentar em público (portando o traje ou não). Elas podem dançar apenas para ele. Claro que a dança do ventre tem todo um lado sensual, mas ela é a herança e cultura de um povo que, a princípio, usava a dança para cultuar uma deusa, para preparar o corpo da mulher para se tornar mãe. Alguns movimentos como o camelo e as ondulações de braços, por exemplo, são inspirados nos movimentos realizados pela cobra e pelo camelo; o shimmie tem o o poder de curar, com sua movimentação localizada no chakras básico, libera energia, acaba com o stress, faz o ground, solta o corpo, ativa a circulação e renova a energia, além dos inúmeros benefícios que a dança oriental proporciona.
Como foi dito, a dança do ventre vai além do fato de ser uma dança sensual. Ela estimula a criatividade, corrige a postura, relaxa o corpo e a mente, proporciona contornos mais definidos aos braços e os ombros, desenvolve a agilidade e a concentração, tonifica e fortalece a musculatura abdominal, desenvolve a agilidade e a concentração, queima calorias, aumenta a circulação e a flexibilidade, combate a depressão, alivia os sintomas da menopausa e melhora a autoestima.
Agora me diz: O corpo é de quem? É nosso. As mulheres podem dançar como quiserem para si mesmas e para expressar a arte, não necessariamente para agradar e chamar a atenção do sexo oposto, mas como forma de perpetuar uma cultura e uma dança que perdura no tempo. Ninguém deveria ter uma má reputação por causa da arte que, em si, vive. Pessoa alguma deveria nos restringir, sem contar que nós temos o livre arbítrio – ou seja, plena liberdade – bem como preferências às manifestações artísticas. Portanto, termino com as palavras de Simone Martinelli (trazidas por Mariana Rabêllo).
Em tempos muito antigos, a dança era a representação da natureza. As mulheres observavam e reproduziam os movimentos da natureza em forma de dança para estabelecer uma comunicação com os deuses e deusas para que, assim, alcançassem a cura, milagre ou a benção.
Coisa mais linda, não é? Vamos desconstruir nossos conceitos culturalmente construídos e se permitir perceber a dança do ventre em sua essência. Quem for de Vitória da Conquista, na Bahia, e estiver a fim de fazer uma aula experimental e conhecer um pouco desta dança tão polêmica, pode entrar em contato com Mariana Rabêllo aqui pelo Pudor Nenhum. Basta mandar um comentário para mim e ela, certamente, saberá. Antes que pensem que o assunto encerrou por aqui, saibam que falar de Dança do Ventre é trazer muita coisa na bagagem. Então, em breve, tem mais!
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.