Fotografia, julgamento e liberdade
A fotografia tem um modo particular de nos falar algo, ela representa a liberdade ou repressão em que estamos inseridos. Muito mais que isso, ela representa o que há dentro de nós. Desse modo, a gente expõe o fato de sermos libertas e, devido a isso, sofremos o risco de sermos apontadas como imorais, pois o ato de se despir ou de simular as vontades do corpo ficam fixadas no clique de uma lente e podem ser vistas a torto e a direita quando colocadas nas redes sociais. Assim, algumas fotos são julgadas de forma injusta por quem sofra de recalque aguda e não consegue ver a beleza – não só externa, mas interna – na explicitez do outro.
Não é de hoje que ouço e sofro indignações. Fotos de praia, com decote, barriguinha do lado de fora ou olhar mais provocador são reprovados por uma classe advinda de gerações passadas ou por pessoas que compreendem a sua vida como um ambiente raso e cheio de limitações. Para alguns, seremos condenados ou castigados por ações que no mostrem o quanto somos lindas e nos amamos. Para nós, viver é libertar-se e isso inclui a fotografia e a exposição dela. Afinal, fotografar e não mostrar nem vale tão à pena assim.
Ao questionar sobre os limites na fotografia, em um bate papo entre mulheres, uma fotógrafa mostrou seu indignar-se por colocar fotos mais ousadas em sua rede social. Como forma de protesto, ela intitulou o seu álbum como “Pq a sociedade e seu puritanismo idiota me cansa!” e a descrição para este foi: “O corpo é meu! Lido com ele do jeito que quero e acho melhor! O que se Fxxx todas as pessoas que ficam se achando donas da verdade, que ninguém pode mostrar nada de si que já vem um puritano sem base e diz que ta errado! é só corpo, pele..ossos..todo mundo tem! Para quê tanto esconder!!?? MOSTRO MESMO! VERGONHA ZERO! Sou feliz assim! Me amo assim! Corpo é casca! Liberte sua mente porque corpo é o menor de nós!”
Assim como a fotógrafa em questão, eu acredito que ninguém deve se sentir afetado por manifestações corpóreas minhas. O corpo é meu e se eu o represento assim é porque tenho me sentido muito bem comigo mesma. A partir do momento que me incomodo com a exposição do outro é porque me sinto reprimida – esta não é a vida que eu quero pra mim.
Na foto acima, publicada em homenagem ao dia da mulher, ela salienta a beleza da fotografia e agradece ao rapaz que a acompanha. A partir dessa foto, peço novamente que a olhem e me digam qual o erro contido nela. Acredito que o explícito está na técnica. Quando olhamos para a imagem acima, vemos penumbra, cuidado e intenções, mas nada está posto à mesa. E se estivesse, mulheres comuns não costumam ser fotografas estilo pornô.
Incomodar-se com o outro e agredi-lo por conta do despertar de sentidos provocados pela foto ou por um resultado da construção histórica a qual fomos submetidos é esquecer-se das lutas femininas e dos direitos conquistados. Para não sair do ditado popular, é não se preocupar com o seu próprio pé e chulé. É, mais do que um jogar de palavras minhas, não olhar-se no espelho e se reconhecer tão linda quando aquela quem foi fotografada.
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.