Uma imagem pela outra e, enfim, gozo.
Quem nunca enviou uma foto peladinha ou com os documentos à mostra em modo clouse up a fim de pegar até as terminações nervosas, por meio de um clique fotográfico, não teve esse intenso desaflorar contemporâneo da adolescência nem internet a todo momento para desfrutar dessa libertinagem sem tamanho. A febre de se enviar fotos íntimas ainda não acabou nem vai acabar. Pelo contrário, continua a todo vapor e besta é quem não aproveita das vantagens de ter um sexo virtual contado passo a passo pela fotografia e com um detalhe: sem mostrar o rosto.
O corpo é a manifestação mais pura e genuína do sexo. A sua nudez contempla nossos olhos de forma a despertar os nossos instintos e reativar nossas carências porque, por mais que não haja o toque, a descrição do que pode ser feito corpo a corpo pode ser um ponto de partida para atiçar a nossa imaginação e invadir todos os outros sentidos. A fotografia instantânea é uma forma e tanto de aproximar distâncias ou satisfazer gulas de um modo impressionante quando esta refere-se aos desejos do corpo.
No entanto, chega uma certa altura da vida que deixa de ser interessante fazer das palavras percurso e da fotografia pistas. Em vez de salivar com toda esta aventura cibernética corpórea, a pessoa só se satisfaz com o toque e o gosto efetivamente sentido. Quando isso acontece, acabou as fotos amadoras e, oh, não adianta mais mostrar o bilauzinho ou a bacurinha porque o tesão quase não mais acende chamas. Nesse caso, o mais interessante se torna o mostrar-se interessante de outras formas até que o encontro realmente venha a acontecer ou que os reencontros se tornem certezas.
As possibilidades de compartilhamento de imagens e a exposição da intimidade, quando feitos sem apresentar o rosto, pode ser uma delícia de se lamber os beiços e literalmente gozar. Permita-se com todos os cuidados necessários e entregue-se. A nossa vida sexual é gostosa demais para não se manter viva, de braços abertos e de pernas abertas.
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.