Pelos muros soteropolitanos
Há 15 dias, eu estava em Salvador e é claro que – em cada muro escrito, pichado ou carimbado com eroticidades – eu precisava fotografar para mostrar-lhes. Meus olhos brilhavam quando via sexualidade e autoafirmação pelas ruas, é aquela coisa de realmente se encontrar. Como vêem na imagem acima (e em todas as outras..rs), a apropriação da mulher fica bem clara. Ela é dona dos seus prazeres e possui a liberdade para se soltar das amarras de uma sociedade machista. Esse imperativo “Libere a Maria e o Orgasmo!” é mais do que certo e tem tudo a ver com o Pudor Nenhum até porque quem vos fala é uma mulher que se declara livre, apesar de alguns grilhões que a vida lhe coloca.
A imagem abaixo me deixou surpresa pela sutileza da imagem em contraste com a expressão “Xotas livres”. Em outras palavras, remeteu-me ao fato de trazer uma representação de leveza – costumeiramente relacionada ao sexo feminino, que é a borboleta – e de mostrar que a mulher pode se expressar como ela quiser porque o corpo é dela (simplesmente). Independente de ser xota, perseguida, xibiu, boceta ou o que mais você quiser falar – quando a questão envolve a si mesma, ela se refere como quiser e isso é uma delícia.
O @muronacara me era desconhecido, então resolvi pesquisar e me deparei com o Instagram Muro na Cara e mais uma série de imagens no Google. Não entendi completamente qual o objetivo deste movimento, mas percebi que tem muito a ver com o dizer o que quer, escancarar verdades e mostrar-se liberto de moralismos. Isso tudo já é muito bom e me deixa de olhinhos brilhando. Além do dito, acima da imagem, falar de toda essa autoafirmação feminina é lidar com o empoderamento da mulher, que significa uma transformação no conceito que ela tem de si na sociedade e isso altera, em muito, a sua autoestima. O não empoderar-se nos torna submissas e submissão, em nosso dicionário, só se for no sadomasoquismo, né?
Para encerrar, esta próxima imagem também é uma lindeza e até relembra o texto “A masturbação é uma forma gostosa de conhecer o próprio corpo“, publicado dia desses, aqui no Pudor Nenhum. Como sabemos, o ato de se tocar sexualmente favorece que nos conheçamos e entendamos como nosso corpo funciona ao receber prazer. Em outro sentido, a frase “Menina, se toque!” pode se referir ao fato de abrir os olhos e não se permitir ser violentada. Quem disse que somos sexo frágil é porque não pensou duas vezes. A delicadeza com que nos vestem vai além do que realmente somos, tô mentindo?
Espero voltar em Salvador ou andar por outros lugares e encontrar dizeres como esses pelas ruas. Claro que constituem uma poluição visual, mas mostram que existem pessoas com pensamentos maravilhosos por aí e isso me deixa feliz e menos culpada com a questão ambiental. Se passarem por algum lugar tão lindo quanto os que eu passei, tira foto e compartilha conosco que irei (ou iremos) adorar!
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.