Qual a diferença entre Sexo e Sexualidade?
Sexo e Sexualidade são duas palavras chaves, aqui, no Pudor Nenhum. A gente sabe que não há uma relação de sinonímia com eles, ainda assim, não sabemos explicar o que significam e, desse modo, ficamos povoados de dúvidas que mal conseguem ser elaboradas. Antes de qualquer discurso, o melhor lugar para destrinchar significados é o Aurélio, nele consta que sexo é
Desconsideremos essa definição apontada nos itens 5 e 6 porque essa ideia de sexo forte e fraco foi uma construção cultural ao longo de nossa história que não condiz com a realidade. Ainda, conforme o Aurélio, vamos verificar o que significa sexualidade.
Não sei se essa definição a respeito de sexualidade lhes ficou clara, então resolvi explicá-la com minhas próprias palavras e por meio de uma metáfora. Pensemos na relação entre língua e fala. A língua é um conjunto de códigos específicos que representam a coletividade, tais como as diversas línguas ao redor do mundo, enquanto a fala é algo individual e refere-se ao modo como alguém se comunica através da linguagem verbal. Nesse sentido, a fala está inserida na língua porque é a partir dela que esta se manifesta. Do mesmo modo, temos a inserção do sexo no todo que abrange a sexualidade.
Sexo é algo individual ou uma palavra que representa o ato sexual em si. Em outras palavras, diria que meu sexo é feminino, que eu tenho vulva e que adoro fazer sexo com homens e em diferentes posições. Além disso, eu posso dizer que, em meus cursos universitários, eu sempre estudei com uma quantidade maior de pessoas do sexo feminino. Já a sexualidade, a gente aponta-na de forma diferente.
A minha sexualidade consiste no aflorar dos meus apetites sexuais. De acordo com a Psicanálise, a sexualidade está diretamente relacionada à libido, pois temos um corpo erótico que reage perante todos os sentidos. Esta funda-se em Freud que compreende o nosso corpo como uma fonte de prazeres e, consequentemente, o sexo como base de tudo.
É possível também, para ficar ainda mais fácil, entender o Sexo como biológico e a Sexualidade como psicológica. Esta última pode ser caracterizada pela orientação e opção sexual, portanto, falar de sexualidade é realmente abordar um mundo onde nossas aptidões sexuais são colocadas em pauta e vão além da abordagem sobre homens e mulheres, ficar de quatro, mulher por cima ou por baixo.
Para a jornalista Thaís Gurgel, na Revista Nova Escola, “Apreciar a textura de um sorvete, relaxar numa massagem, desfrutar o beijo da pessoa amada: tudo o que se relaciona ao prazer com o corpo está ligado à sexualidade”, ou seja, a sexualidade é uma amplidão que nos perpassa desde o nosso nascimento e, sendo assim, é um tema que não se esgota. Percebe-se que suas palavras estão imbuídas do que Freud, no início do século XX, concluiu.
Para Sigmund Freud, em Um caso de histeria, Três ensaios sobre sexualidade e outros Trabalhos,”não é fácil delimitar aquilo que abrange o conceito de ‘sexual’. Talvez a única definição acertada fosse ‘tudo o que se relaciona com a distinção entre os dois sexos’. (…) Se tomarem o fato do ato sexual como ponto central, talvez definissem como sexual tudo aquilo que, com vistas a obter prazer, diz respeito ao corpo e, em especial, aos órgãos sexuais de uma pessoa do sexo oposto, e que, em última instância, visa à união dos genitais e à realização do ato sexual. (…) Se, por outro lado, tomarem a função de reprodução como núcleo da sexualidade, correm o risco de excluir toda uma série de coisas que não visam à reprodução, mas certamente são sexuais, como a masturbação, e até mesmo o beijo”.
Diante de toda a explanação realizado, espero que não tenhamos mais dúvidas diante do slogan que cerca o Pudor Nenhum: Sexo e Sexualidade na ponta da língua. Quando me dizem que é difícil ter assunto para escrever todo dia, eu rebato com o argumento de que sexualidade é um universo no qual as pautas não se esgotam nunca.
Caso ainda tenha dúvidas e queira conversar, pode me convidar para uma xícara de café ou uma taça de vinho. No Pudor Nenhum, eu gosto de deixar tudo às claras, afinal, quem fica no escuro, não enxerga o buraco da fechadura e a gente adora olhar o que tem do outro lado.
Para finalizar, quero que olhem novamente para a imagem que ilustra esta publicação. Da ilustradora Bianca Beltra Mello, ela e outras foram achados que me deixaram morta de amores e que representam bastante todo o universo de prazeres que trazemos aqui. Estou encantada! Quando quiser sugerir artistas, temas e vontades, fique à vontade e despudorize-se junto comigo. Confesso que é uma delícia!
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.