Quando eu sumi, estava bege.
A gente não some porque quer. Há sempre toda uma história por trás disso e, em cada história cotidiana, é possível encontrar suspeitas e certezas de que uma semana longe do Pudor Nenhum é significativo o bastante para passar batido. Infelizmente, não vou poder contar que estava curtindo as sensações carnavalescas da pele nem atiçando os ouvidos com sussurros. Não, eu não estava carmim. Em momento algum, coloquei meu batom vermelho ou escureci meus olhos para aprofundar o olhar. Posso dizer uma coisa: estava bege.
O bege é uma cor sem sabor e sem quê nem pra quê, mas foi assim que eu me encontrei. Estudos, trabalho e problemas de saúde inviabilizaram-me publicações inspiradoras. Eu adoraria ter chegado aqui cheia de novidades e ter me vestido de selvageria durante este tempo, mas fui trouxa e me rendi aos desmandos de uma vida tipicamente urbana. Não houve nem um papo mais saliente trocado virtualmente, foi tudo muito igual e as malícias estavam na vontade de voltar pra cá e dizer pra todo mundo se foder e me carregar junto. Precisava e ainda preciso muito disso.
Eu preferia estar carmim, mas eu estava bege. Agora que o tempo me deu um help, as coisas voltarão para seus trilhos. Pode vir, olhar, participar nos comentários, enviar-me e-mails e dizer todas as suas malícias, estou aqui para isso: para ser um pouquinho de cada um nessa representação que se despe costumeiramente de pudores.
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.