Quem é essa mulher que você vê?
Diante desta foto e de todas as minhas andanças e sorriso, diriam sobre essa mulher: Nossa, ela é muito bonita, gente boa, super simpática. Ah, eu sempre a chamo quando tenho alguma dúvida sobre os forrós na cidade ou sobre algo relacionado à sexo. Inclusive, essa cor dela é maravilhosa, hein? Eu pegaria. Será que ela é essa pressão toda? Opa, já peguei e vale a pena. Mas, oh, a gente fica e ninguém precisa saber, hein?
Poxa, você bem que poderia me dar essa noite de presente de aniversário, não é? Tenho fetiche em mulher de pele preta. Você é uma deusa de ébano, cor do pecado, cor de brasa. Dizem que mulheres negras são mais quentes. Será? Tenho a maior vontade de provar. Não estou a fim de relacionamentos. A gente pode se encontrar depois de terminar esse forró? O que você acha daquela loirinha ali? Você é maravilhosa e tem o melhor boquete. Entre a gente não rola aquela química, mas topa vir aqui em casa assistir um filme?
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E, assim, a gente ouve, ouve de novo e mais uma vez. É assim que todos eles me vêem. É sobre isso a solidão da mulher preta: sobre estar à margem, mesmo quando a querem perto. É se sentir objetificada e preterida sempre.
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Mas e você, como se vê? Retorno essa pergunta como forma de dizer: você não precisa se olhar do mesmo modo como os outros te olham. Você não precisar ser o reflexo de toda negatividade que lhe é imposta por conta da sua cor. Apesar de toda dor, há sempre uma mulher que, quando resolve lutar, se impõe e se reconhece como a pessoa linda e necessária que é.
Portanto, observe sua trajetória, pense em seus pontos fortes e se fortaleça. Nós, mulheres, merecemos o mundo. Besta é quem não reconhece.
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.