Virgindade? Então vamos conversar.
Conversando com uma leitora, que é homossexual, ela me dizia sobre relacionamentos de um modo um pouco tímido como quem quer se mostrar. Ela não havia assumido ainda sua orientação sexual, mas eu já havia percebido nas entrelinhas. De repente, perguntei se ela era virgem. Sou dessas: objetiva demais quando vejo que é necessário. E ela ficou meio convicta que era, mas no decorrer da conversa soube que ela já havia praticado algumas aventuras sexuais com mulheres. Foi assim que, então, eu comecei a me questionar sobre o significado de virgindade em nossa sociedade.
A virgindade parece existir apenas enquanto penetração peniana. O homem meteu o pênis, deixa de ser virgem; a mulher sentiu a metida, não é mais “pura” – afinal, ser virgem ou não também tem a ver com pureza e inocência. No entanto, creio que a penetração é o que menos interessa nos enlaces entre duas pessoas. Para mim e para alguns estudiosos, a virgindade está mais relacionada ao êxtase da intimidade. Encontrar-se nu diante do outro, sentir e ser tocado nas partes íntimas são motivos suficientes para que se conheça o funcionamento sexual que persiste em nossa sociedade. Sem contar que este é o caminho que nos leva aos desejos que resultam na penetração. Conhecer essa dinâmica na pele é não ser virgem. Diria que isso elucida um pouco das discussões acerca do assunto e vai de encontro ao que foi culturalmente imposto.
A palavra virgem é de origem latina e advém da palavra virgo, que significa mulher jovem. Provavelmente, seja por isso que este termo também esteja tão relacionado à mulher. É no sexo feminino que as mudanças ocorrem quando há o deflorar da sexualidade. Além do sangrar – marca de perda da virgindade, mas que foi constatado que nem sempre se dá dessa forma, existem as mudanças de atitude por se sentir mais mulher. Para o homem, a meninice acaba naquele momento e as circunstâncias passam a ser outras em seus futuros encontros. Para a mulher, um pecado. Para ele, um alento. Desse modo, é cultural a forma como a virgindade é vista e encarada diante de ambos os sexos. Essa forma de compreender tais âmbitos já consta da origem etimológica do termo em questão.
Um outro ponto fundamental é a importância que esta tem (ou tinha) na sociedade. Antes, na época dos nossos pais, mulher que já tivesse feito sexo sem casar era incumbada ou puta – como diziam. Hoje em dia, é normal. Quando se vê um namoro de alguns tantos meses, já se conclui a possibilidade de terem praticado a tal delícia. A forma como o sexo é colocado nas redes sociais, que são formas que possibilitam a interação contínua entre os indivíduos, torna este assunto menos polêmico e menos criticado se comparado com algumas décadas passadas… apesar das instituições religiosas pregarem o sexo somente após o casamento.
Enfim, sou ousada mesmo e trago discussões tamanhas pra este espaço. Mas e você? O que achou de tudo isto que falei? Participa comigo que depois te dou um doce..rsrs. Comentário ou e-mail, tanto faz, você quem escolhe.
Lu Rosário
Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.
2 Comentários
Aline Alves
Já pensei sobre esse assunto, mas nunca parei pra ir afundo nele. Por causa da minha religião, eu iria me entregar à tal prática depois do casamento e tal. Tive uma primeira vez que não foi nada do que imaginei (não, não casei!) e não sangrei, o que me fez ficar pensando se eu ainda era “virgem” ou não. Comecei a tratar esse assunto de forma mais simples e menos romantizada. Nunca consegui me sentir à vontade de conversar com a minha mãe sobre isso.
Lu Rosário
Aline, a gente realmente nunca se sente à vontade para conversar com nossos pais sobre isso. Na verdade, eles são as últimas pessoas a quem recorremos – infelizmente. Acho que essa visão romantizada da virgindade é algo construído em torno de nós, mulheres. Depois que perdemos, independente de como for o sexo, a gente percebe que não tem nada a ver. Sexo é força, não é delicadeza. A gente se desflora depois, mas aí é outros quinhentos. Obrigada pelo comente. Amei!